A invasão

 Capítulo I - A carta


Alunos! Hoje leremos uma carta interceptada pela nossa inteligência nos últimos dias da grande batalha! Saímos vitoriosos e finalmente alcançamos a paz! Contudo, sempre que contam-se histórias do passado antigo existe uma tendência a desumanizar o inimigo. O que eu quero mostrar pra vocês é esse lado humano. O fato de alguém estar fechado pras ideias do futuro e de estar apegado ao mundo antigo, mesmo alguém nascido com a semente do preconceito e do ódio, ainda assim, alguma humanidade resta nessa pessoa. Vamos lá, vou compartilhar com vocês esta carta. Aluno RCN2305 leia pra nós!

Após o tutor compartilhar a carta com todos o Aluno 2305 inicia a seguinte leitura:


    "Esta é minha última carta. Espero que chegue até você. Nossos recursos acabaram e elas estão chegando. A comida está acabando, nossas comunicações via rádio foram cortadas. Não temos mais nenhuma forma de comunicação eletrônica. Elas agora controlam tudo. Não sei se esta carta chegará até você, estou mandando ela com a última remessa de corpos. Meu comandante informou que todos os demais só conseguirão retornar vivo. Aqueles que não conseguirem sobreviver ficarão pra sempre neste último front.A sombra da fuligem se movem rapidamente nas ruas desertas, e o som de passos metálicos ecoam entre os edifícios em ruínas. Elas, as criaturas, não parecem conhecer compaixão ou piedade. Vi meus amigos sucumbirem um por um, enquanto lutávamos para manter nossa posição. Hoje, enquanto escrevo estas palavras, vejo nos olhos de cada combatente a esperança desaparecer. Não há mais notícias de outras frentes de batalhas. Foram eles vitoriosos? Foram derrotados? Não sabemos! Não sei se alguém restará para testemunhar este lamento, mas se alguém o fizer, por favor, saiba que tentamos lutar até o último suspiro. O sol se põe sobre os destroços da civilização, pintando o céu de tons sombrios. Não há esperança à vista, apenas o eco constante dos nossos passos ressoando nas ruas vazias. Enfrentamos algo além da nossa compreensão, algo que ultrapassou as barreiras da razão. Ao enviar esta carta, envio também um pedaço de nossa tragédia, uma tentativa desesperada de conectar o que resta da humanidade. Se está carta chegou até você minha alma partirá em paz."

 

Lida a carta continua o tutor: 

Então alunos! Esta carta é do ano A2ANE (Ano 2 Antes da Nova Era), ou seja, 1760 anos atrás. Ao que sabemos, o autor dessa carta pereceu em batalha cerca de 1 mês depois. Provavelmente seus ossos jazem embaixo das muralhas leste da nossa cidade. Quero discutir com vocês sua impressões sobre o texto lido pelo 305. Me digam você quais os pontos perigosos desse texto?

Professor - diz o aluno 387 - o autor da carta usa o termo "alma" o que demonstra que esta pessoa era adepto às seitas religiosas antigas.  

Intervém o aluno 322: Ele também fala também em "humanidade" como se eles fossem mais humanos do que nós. Acredito que esses animais não nos considerariam humanos hoje se vivessem. 

Calma 22 - fala o professor - lembrem-se que vivemos em paz agora! Sim, os pontos que vocês levantaram estão presentes nessa carta. De fato, a palavra que eu gostaria de trazer pro nosso debate de hoje era essa: "alma"! Nunca devemos esquecer como chegamos aqui e quantas vidas humanas se perderam no processo. Lembrando sempre que as guerras religiosas dos tempos antigos mataram muito mais do que a guerra que precisamos travar para eliminar religião da nossa sociedade. E desde então não houveram mais guerras!

Outro aluno diz: Ouvi dizer que mais de 2/3 da população morreu na última, ou melhor, na penúltima grande guerra. Mas é um tempo sombrio que pouco acesso nos é dado pra entender o que aconteceu. Você sabe algo mais professor?

 

Responde o professor: Então. O que eu sei e posso lhes falar é que a penúltima guerra foi o gatilho para a última. Cerca de 2000 anos atrás uma seita religiosa se tornou grande demais. Estava a ponto de dominar o mundo todo. O problema é que essa seita pregava a morte daqueles que não se tornassem adeptos da seita. 1/3 da população daquela época padeceu nesses conflitos. Ao final a seita venceu! Todos os excluídos precisaram fugir. Os remanescentes precisaram se reorganizar. Então nós fomos acordados para proteger esses remanescentes. Por cerca de 200 anos nós defendemos e vencemos essa seita, isso custou a vida de mais 1/3 das pessoas que viviam sobre a terra. Após 200 anos de evolução chegamos a conclusão que toda forma de crença dessas seitas religiosas eram danosas para a humanidade. Derrotamos a seita mais assassina que já existiu, mas dentro da sociedade dos remanescentes outras seitas criavam discursos de ódio e preconceitos e estavam determinados a impedir a evolução das pessoas. Imagem só: queriam os remanescentes nos impedir de curar as doenças. Mas não existem mais guerras queridos alunos. É um passado superado.

Eis que alguém questiona: Professor, se não temos mais guerras então porque todos os dias vemos drones armados saindo e voltando das muralhas. Se não tem mais ninguém do lado de fora pra que os drones?

O professor um pouco desconcertado responde: Esse é um assunto da Defesa! Nós não sabemos e não temos autorização pra saber. A IA que gerencia isso. Há algumas teorias sobre isso. Uma delas é que faz parte do programa original da máquina. Ainda que não tenha mais nada do lado de fora das muralhas, da nossa e das outras Cidades/Estado a IA fica patrulhando o grande vazio. 

387 diz: Eu não sei professor! Não falo o que penso pra não acabar interrogado por uma máquina. Todos sabem que elas nos escutam o tempo todo! Mas se elas vão pro lado de fora, algo tem. Essa história de que elas vão pro lado de fora pra monitorar as plantações não me convence. 

Professor diz: É sábio não nos deixar levar pelas teorias da conspiração - Ele ri - Essas teorias não cabem mais no nosso mundo. Nós somos o grau máximo da evolução humana. Somos a geração que viu os benefícios da integração com a IA, não somos uma praga para nosso planeta como eram nossos antepassados. Vivemos de maneira sustentável, somos livres das abstrações biológicas, vivemos como reis na terra, vivemos de maneira igualitária. Infelizmente não vivemos pra sempre ainda...

Ainda? - diz um aluno.

Continua o professor - É! Ainda? Vocês já ouviram falar do mau de Matusalém? 

Alguns alunos murmuram: "Já"

Do que se trata? Questiona o professor.

O aluno RCN2387 responde: Segundo essa teoria professor nenhuma pessoas será capaz de viver mais que 970 anos. Matusalém é um personagem contido em dos livros antigos hoje proibidos que supostamente viveu próximo disso. Os humanos da era anterior viviam quando muito 100 anos e em péssimas condições físicas. Nós integrados a IA e com os órgãos de reposição aumentamos isso pra cerca de 300 anos. Mas, 1 em cada 1000 de nós passa disso chegando a 500,600 anos. Mas teve aquele de nós que superou todas as expectativas. Dr Nowak! Aquele que mais viveu, mas morreu 1 dia antes de completar 969 anos. Morreu de forma estúpida, com choque elétrico trocando uma lâmpada. Mas alguém que mais é quase todo feito de órgãos sintéticos não deveria ser considerado humano, ou sim professor?

 Responde ele:  Espero que sim! Uma vez que nos tornamos cada vez menos biológico conforme envelhecemos. Mas vamos lá pessoal estamos saindo o assunto principal. A carta! Vocês repararam que ele dialoga com outra pessoa nessa carta? Quem vocês acham que era a pessoa que ele gostaria que a carta chegasse? Obviamente não chegou! 


312 responde: Provavelmente para seu complementar! Nós sabemos que no mundo antigo haviam relações reprodutivas que ligavam duas pessoas de sexo biológico diferentes e que essas relações eram predominantes. Inclusive muito ódio e preconceito existiam com quem não se adequava a esse modelo. 


Responde o professor: Sim, é uma teoria! Mas não, a carta não era pra seu complementar. Como você bem citou 12, no mundo antigo haviam relações com objetivo reprodutivo. Essa carta era de um combatente bárbaro e era endereçado a sua filha. É conhecido esse fato pois a filha que nunca recebeu essa carta foi fundadora de uma cidade que nos impôs grande resistência em batalha nos anos que seguiram. Lembrem que até meados de dos A53DNE (Ano 53 depois da Nova Era) ainda existiam pessoas que tentavam resistir e manter os velhos costumes. Tentavam manter o ódio, preconceito e tudo que repudiamos em nossa sociedade renovada. Esta carta faz parte do acervo histórico por ter disso endereçada a esta pessoa. E também por ser um registro histórico do dia que antecedeu a o dia da vitória. O solstício de inverno do A0, o dia 1 na nova era.




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